sábado, 8 de dezembro de 2012

Espinossauro



Pegue um crocodilo e de-lhe uma postura bípede, alongue-o até atingir o comprimento de uma carreta. Em seguida, confira a ele uma singular vela que lhe percorra as costas. Parabéns, você acaba de recriar um dos carnívoros mais impressionantes que já pisaram na Terra. Se o T-Rex é o golias norte-americano, este é um titã africano. Como Billy Brennan enfatizou em Jurassic Park III; "É um Super-predador".



   


Nome Científico: Spinosaurus Aegyptiacus
Tamanho: entre 12 e 18 metros
Peso: 9 a 12 toneladas
Regime alimentar: carnívoro
Onde viveu: Egito (Spinosaurus Aegyptiacus)
            Marrocos (Spinosaurus Maroccanus)
Período: Fim do Cretáceo inferior (Albiano) e início do Cretáceo superior (Cenomaniano)




Por volta de 1912, Ernest Freiherr Stromer Von Reichenbach, um destacado paleontólogo alemão, rumou junto a sua equipe para realizar escavações no Oásis de Bahariya, Egito. Lá Ernest fez descobertas interessantes, desenterrando e nomeando parte do que deviam compor parte de um ecossistema a muito perdido. Dentre os espécimes descobertos constavam o estranho Stomatosuchus e o pacífico Aegyptossauro, o terópode Carcharodontossauro e o Bahariassauro. Houve ainda mais um achado. Um em particular diferente do que já se conhecia. Uma criatura de corpo incompleto, porém, com um nome; Spinosaurus Aegyptiacus, o Lagarto Espinho Egípcio (devido a longas prolongações ósseas da coluna vertebral, as maiores medindo 2 metros de altura). O pouco material fóssil bastou para reconhecer os traços de um predador, ainda maior do que o T-Rex. Infelizmente Ernst não teve sorte no que diz respeito a conservação de seus achados, exceto por desenhos e explicações detalhadas, nada mais sobrou.
Pode-se atribuir a Ernst a alcunha de sortudo mais azarado, isso porque o material dos exemplares que descobriu e nomeou, e que posteriormente foram levados para serem exibidos no museu de Munique, Alemanha,  foram destruídos nos bombardeios durante a Segunda Guerra Mundial. 







Ilustração detalhada dos ossos que compunham  a vela do Espinossauro.






TAMANHO




Atualmente detém o posto de maior dinossauro carnívoro, com um tamanho máximo de dezoito metros tendo seis metros de altura.  Quanto a seu peso, por se desconhecer todo o esqueleto fóssil completo, deram estimativas baseadas em terópodes sem nenhum parentesco com o Espinossauro, resultando pesos na ordem de 20 toneladas. Esse valor foi revisto e hoje pensa-se que seu peso devesse rondar 9-12 toneladas.
Dale A. Russell
A espécie nomeada por Stromer é a nais popular, muito embora exista uma segunda chamada Spinosaurus Maroccanus (O Lagarto Espinho Marroquino), batizada por Dale A. Russell, em 1996. Segundo Russell, o que distingue este do espécime de Stromer é a altura do centrum - corpo de vértebra (1,1 m no Spinosaurus Aegyptiacus contra 1,5 m do Spinosaurus Maroccanus). Muito embora aponte, a princípio, diferenças anatômicas, não quer dizer que se trate efetivamente de duas espécies distintas. Assim como nem todos os leões machos possuem jubas, indivíduos Spinosaurus Aegyptiacus podem ter tido variações quanto a tamanho/ comprimento.
Apesar de grande e com uma fama em ascensão, existe muito pouco material fóssil do animal, destacando-se entre os espécimes coletados 6: 









Rara fotografia do achado de Stromer

BSP 1912 VIII 19: Descrito por Stromer em 1915, consistia de um conjunto fragmentado de 40 partes: 
mandíbula inferior medindo 75 cm de comprimento
20 dentes
2 vértebras cervicais 
7 vértebras dorsais
3 vértebras sacrais
1 vértebra caudal
4 costelas
Ossos da Gastrália.




NMC 50791: Descrito por Russell em 1996. Guardado no Museu da Natureza Canadense, trata-se duma vértebra cervical medindo 19,5 cm, resgatada das jazidas de Kem Kem - Marrocos. O espécime em si pertence ao S. Maroccanus. Outras duas vértebras cervicais (NMC 41768 e NMC 50790), um fragmento dentário anterior (NMC 50832) um fragmento dentário do meio (NMC 50833) e um arco neural dorsal anterior (NMC 50813) também são creditados ao  maroccanus. A espécie gera tanta polêmica quanto o Nanotirano - hoje pensado para ser um jovem T-Rex. Enquanto uns aceitam o S.maroccanus como uma espécie distinta, outros o colocam como um sinônimo junior do S. aegyptiacus.



MNHN SAM 124: Propriedade do Museu Nacional de História Natural - Paris. Descrito por Taquet e Russel, em 1998, um focinho composta de premaxila parcial, maxila parcial, võmer e fragmentos dentários. Media 13,4 a 13,6 cm de largura. Vindo da Argélia, foi estimado da época Albiana. Taquet e Russell acreditavam que o espécime pertencesse ao S. Maroccanus.


BM231: Guardada na coleção do Instituto Nacional de Minas, Tunis, descrito por Buffetaut e Quaja em 2002. Um fragmento de dente anterior de 11, 5 cm, datado do Albiano inferior, Formação de Chenini - Tunísia. 


UCPC-2: Mantido na Coleção Paleontólicada Universidade de Chicago, consiste de dois ossos nasais estreitos conectados com uma crista sem crânio que ficaria entre os olhos. O comprimento é de 18 cm. Datado do início do Cenomaniano. 


MSNM V4047: Este último permanece no Museu de História Natural de Milão, tendo sido descrito por Dal Sasso e colegas em 2005. Composto de focinho com premaxila parcial e ossos nasais parciais, mede um total de 98,8 cm de comprimento. Resgatado das jazidas de Kem Kem. Como o UCPC-2, acredita-se que seja originário do Cenomaniano.






VELA



Sem sombra de dúvida, a parte mais chamativa de sua anatomia. O observador que desviasse a atenção para as costas desse animal, veria longas prolongações vertebrais da coluna, envoltas por pele, semicircular, tão altas quanto uma pessoa. Tal como a juba dos leões, a função exata dessa estrutura ainda é tema de debate. Podemos descartar seu uso numa luta - além de estarem no lugar errado eram demasiadamente frágeis. Dentre as possibilidades, três são as mais plausíveis:  



  • Pode ter servido para regulagem de temperatura; captação de calor - nas primeiras horas da manhã - ou resfriamento - nos dias mais abafados. 
  • Pode ter sido usada durante a corte - o sangue circularia mais intensamente nos canais que percorriam a estrutura, criando um espetáculo visual semelhante ao dos pavões.  

  • Pode ter servido como alerta; adquiriria cores berrantes para intimidar rivais - reivindicando fêmeas ou territórios - ou  assustar outros predadores.



Espinossauro escorraçando um Deltadromeus.





PISCÍVORO?



Assim como os críticos olham para os braços do T-Rex para invalidar a teoria de caçador, no Espinossauro foi sua cabeça que levantou questões sobre sua dieta. Aquilo lá não podia matar nada mais do que peixes. De fato as mandíbulas do Espinossauro não era como a da maioria dos terópodes, de aspecto bruto; eram compridas e finas parecidas com as do Gavial, espécie de crocodilo atual que habita os cursos d'água da Índia.





(crânio de Gavial. Dieta exclusivamente de peixes)





(crânio de Espinossauro)
(A estrutura da mandíbula, bem como o tipo de dente, sugere alimentação a base de peixes)


A compreensão do habitat do Espinossauro reforça, a princípio, a teoria de hábitos piscívoros. Grande parte do que hoje forma o Norte da África, durante o Cretáceo, era composto de pântanos e manguezais, um ecossistema rico em crocodilos, tartarugas e peixes. Isso significa que o poderoso Espinossauro pode ter passado grande parte do tempo sondando as águas. Essa tese não é unanime entre os paleontólogos pelo seguinte; animais que vivem dentro ou próximo a água (como lontras ou crocodilos) possuem corpos adaptados para a locomoção, e não há, por enquanto, provas de que o Espinossauro tivesse tais adaptações.





Pata de Lontra de Rio.







Pata de Crocodilo.




Esqueleto de Espinossauro.






Pode ser que ao invés de "nadar" ele permanecesse parado em pé, próximo a margem 
(imagem do documentário Planet Dinosaur)




CONCORRÊNCIA



Datado das fases Albiano e Cenomaniano, do Cretáceo, o Espinossauro teria dividido seu mundo com outros predadores de topo: Carcharodontossauro, Sauroniops e Deltadromeus. A concorrência, a princípio, o teria empurrado para a água, onde o Espinossauro teria subsistido a base de peixes. 





Mohamad Haghani retrata uma possível coexistência pacífica entre predadores. Espinossauro pescando um Onchopristis, enquanto dupla da Carcharodontossauros se banqueteia com um Ouranossauro.





Essa é a opinião dos paleontólogos. Opinião não unanime, e eu concordo com os que duvidam. Como opinião pessoal, acredito que o Espinossauro foi sim um Superpredador.

1 Superpredadores normalmente - a exceções - possuem tamanho avantajado, que funciona tanto como proteção - intimidação - como para caça de grandes animais. 

2 Superpredadores não estão restritos a um determinado nicho ecológico. O Espinossauro pode ter variado entre terrestre e aquático, dando preferência a presas mais abundantes em períodos específicos. 

3 Superpredadores são caçadores generalizados - ou seja, caçam tudo o que conseguem apanhar. Seria plenamente capaz de caçar Ouranossauros e Aegyptossauros, assim como pescar peixes, tais como Mawsonia




MÍDIA


Fez sua estréia nas telonas dos cinemas em Jurassic Park III, de 2001. Exclusivo do filme - pois a espécie não aparece nas obras literárias de Michael Crichton - o gigante de barbatana, em uma luta épica, contracena com o astro dos dois primeiros filmes da franquia Jurassic Park - o T-Rex - tendo ao final emergido vencedor, quebrando o pescoço do lagarto tirano. A partir daí resolveram explorar sua imagem. Em 2007 apareceu na série britânica Primeval. O primeiro documentário em que estreou foi em Monsters Resurrected, de 2009. Aqui é visto como um predador de topo, sobrepujando quaisquer rivais - é desnecessário dizer o quanto forçaram no mérito de super-predador, deram ao Espinossauro um nível de invencibilidade igual o T-Rex (em posts futuros falarei disso). Em Planet Dinosaur de 2011, o Espinossauro é visto ignorando uma manada de Ouranossauros, indo pescar.

sábado, 1 de dezembro de 2012

Carcharodontossauro









Os primeiros restos desse monstro remontam no início do século passado e foram um verdadeiro quebra-cabeça. Numa expedição ao Norte da África, em 1927, Charles Deperet (retrato a esquerda) e J. Savornin acabaram topando com estranhos dentes. De imediato puderam concluir dois fatos: eram dentes de uma espécie animal extinta, um dinossauro. E a julgar pelo tipo e formato, um dinossauro de regime alimentar exclusivamente carnívoro. Pesquisaram e viram que não pertencia a nenhuma espécie conhecida. Estavam diante de um novo achado. Por só dispor desse material (que posteriormente foi perdido) batizaram o bicho de Megalosaurus Saharicus. Mesmo alegando a falta de mais partes, diria que faltou um pouco de criatividade na hora de nomeá-lo. Quatro anos depois, o paleontólogo alemão Ernst Stromer Von
Ernst Stromer Von Reichenbach
Reichenbach teve mais sorte ao descobrir fragmentos de ossos junto a mais um punhado de dentes. Renomeou o achado de Charles e Savornin, batizando-o de Carcharodontossauro, o 
Lagarto com Dentes de Tubarão. Infelizmente esse achado teve vida curta nas mãos de Reichenbach, pois ao ser levado para o museu de Munique, Alemanha, acabou destruído nos  bombardeios da Segunda Guerra.
O animal só sairia dos escombros do esquecimento em 1995 (coisa de dezenove anos atrás). Dessa vez uma nova safra de paleontólogos rumou até o deserto do Marrocos, onde Paul Sereno e sua equipe descobriram os restos fossilizados do crânio. Enfim o mundo poderia apreciá-lo.













TAMANHO


Um terópode de tamanho avantajado, alcançou 15 metros de comprimento (sendo pouco maior que o T-Rex). De altura teria tido 4,60 e pesado algo em torno de 8 toneladas. 






Comparação do Crânio do Carcharodontossauro com o de um humano. Modesto não?






O paleontólogo Paul Sereno junto ao crânio do monstro marroquino.






Assistidos por uma profusão de pterosssauros Alanqa, uma dupla de Carcharodontossauros se une para levar o caos a manada de Aegyptossauro e separar um jovem. 







O comportamento predatório do Carcharodontossauro é suposição. É visível, porém, que possuía os armamentos necessários a caça. Em muitas retratações lhe é dado um padrão de manchas, sugerindo que ele tocaiava suas presas em locais de farta vegetação próximo a bebedouros ou florestas. Faz sentido terópodes grandes terem adotado tal comportamento, uma vez que emboscar compensava a pouca resistência em perseguições. Os grandes predadores modernos (a exemplo o leão) também dispõem de camuflagem. Entre suas presas deviam constar o Ouranossauro, o pescoçudo Aegyptossauro e o colossal Paralititan.




INTERAÇÕES:

Carcharodontossauro reivindica a caça perante um audacioso Deltadromeus






O retrato de uma possível contenda: Carcharodontossauro disputando a presa com o Espinossauro




MÍDIA


Finalmente, os paleontólogos perceberam que no mundo havia outras espécies carnívoras além do T-Rex, e começaram dar a chance de fazer aparições em documentários. A primeira aparição do Carcharodontossauro foi em Monsters Resurrected (2009). Não foi uma estréia lá das melhoras porque acabou nocauteado - morto - por um Espinossauro (diga-se de passagem, exageraram demais ao colocar o Espino tão forte). Posteriormente apareceu em Planet Dinosaur (2011), dessa vez como um oponente a altura, com direito a revanche contra o Espinossauro.