Arte de Charles Robert Knight (1897) |
Faça uma enquete: Pergunte a qualquer criança qual dinossauro
herbívoro elas gostam mais. Provavelmente não saberão dar o nome exato, mas
saberão descrevê-lo perfeitamente; alto como uma casa, comprido igual um
caminhão, pesado como um elefante. Simples, porém, objetivo.
Quando Othniel Charles Marsh apresentou-o ao mundo, ninguém
imaginava que pudesse haver algo que superasse o Apatossauro. Era simplesmente
gigante; da cabeça a cauda media 23 metros . Alto o suficiente para meter a
cabeça pela janela do 3º andar. As pernas se pareciam com colunas cilíndricas e
a cauda, como o tronco grosso de árvore. Seu peso foi calculado em algo entorno
de 36 toneladas – mais ou menos 10 elefantes. Um animal no todo enorme, mas que no fim da extremidade do longo pescoção, trazia uma pequenina cabeça, tão
cômica quanto os braços do T-Rex. Apatossauro significa "Lagarto Falso".
A espécie descrita por Marsh, Apatosaurus Ajax. O espécime faltando as partes, NSMT-PV 20375, é o material original. Abaixo, o exemplar completo. |
Devido à descoberta de espécies ainda maiores – tais como o
Braquiossauro, Argentinossauro, Seismossauro – o Apatossauro ficou meio
eclipsado – pra não dizer totalmente apagado. Não é tão conhecido de
documentários, sendo mais popular em filmes antigos. Todo saurópode que você vir naqueles filmes preto e branco, pode ter certeza, é um Apatossauro. O Mundo
Perdido (The Lost World, 1925) apresentou uma equipe expedicionária indo ao
coração da Amazônia venezuelana, onde num platô acabam descobrindo uma
colônia de formas de vida primitivas. Era um tema muito popular no início do século passado e havia quem
acreditasse na existência de dinossauros vivos habitando esses planaltos – claro, esses
platôs não haviam sido devidamente explorados. King Kong de 1933 também
apresentou um Apatossauro. Este, porém, possuía um temperamento agressivo,
chegando mesmo a devorar um humano. No
livro Jurassic Park, é o Apatossauro o primeiro dinossauro que todos vêem logo
de cara. Desconheço se houve um motivo oficial para terem-no substituído.
Imagino que foi justamente a questão de apresentar uma espécie ainda maior que
o Apatossauro.
Apesar de distante do posto de maior animal terrestre, foi e
continua sendo, sem sombra de dúvida, um dos mais populares dinossauros, retratado numa infinidade de filmes e desenhos. Um que podemos destacar é o clássico de Hanna-Barbera Dinoboy (1966). Um menino (Todd) salta de para-quedas de um avião em chamas, aterrissando numa floresta sul-americana, onde dinossauros - e outros animais extintos - viviam. Sem ter como fugir, passa a viver ali, junto de Ugh (um homem das cavernas) e Bronti (Bronty) um filhote de Apatossauro criado como mascote.
Quem ai se lembra desse dinossaurinho?
Certeza que ninguém da nova geração sabe o nome, mas a velha
guarda dos anos 80/ 90 reconhece Littlefoot, um filhote de apatossauro e um dos
protagonistas do filme Em Busca do Vale Encantado (The Land Before Time, 1988). Assistia esse filme de deixar o videocassete fervendo - no tempo ainda das fitas VHS, putz, como o tempo passa. Não vão pensando que se trata de mais uma historinha trazendo dinossauros como tema. A animação não é um retrato fiel de algum período mesozoico, nem essa era a
intenção. Ao mesmo tempo que divertia também abordava temas sérios de nossa sociedade; a dor de uma separação inesperada, ser capaz de continuar enfrente, o valor da amizade, mostrar cooperação. Valores cada vez mais perdidos e que vale a pena revivê-los. Fez tanto sucesso que garantiu uma série animada de 26 episódios. Deixo aqui a música de encerramento do filme Se Mantivermos Juntos (If We Hold On Together).
O segundo personagem fictício de maior destaque, foi criação do próprio Marsh, embora o mesmo não tivesse a menor ideia disso. Resumindo a história, houve uma época em que Othniel Charles Marsh e Edward Drinker Cope eram bons amigos. Não eram amigos do tipo que cresceram no mesmo bairro. A amizade dos dois era do tipo que se forma na escola ou trabalho. Não tardou e ambos resolverem entrar numa disputa para ver quem era capaz de coletar e nomear mais espécies de dinossauros. Inicialmente os dois levavam tudo na brincadeira. O tempo foi passando, e a coisa evoluiu, chegando ao ponto dos jornais noticiarem escândalos de propina, difamação e ameaças das mais variadas.
Certo dia, Marsh fazia escavações quando se deparou com o que supunha ser uma nova espécie (na verdade era um Apatossauro). Tinha todo o corpo, porém,
faltava à cabeça. Isso não impediu Marsh, que pensou: Ora bolas, que mal há em providenciar uma cabeça, só falta isso para
poder anunciar minha descoberta ao mundo!! Assim ele prosseguiu com o
plano, pegou o crânio de um Camarassauro e colocou-o no corpo do seu achado, exibiu-o
a comunidade cientifica e mídia geral. Quando indagado qual era o nome, Marsh
respondeu; Brontossauro, o Lagarto Trovão. De imediato seus opositores,
especialmente Cope, disse tratar-se duma farsa, e que a cabeça pertencia ao
Camarassauro. Marsh insistiu tratar-se duma espécie autêntica. No fim teve de
reconhecer o erro. Ele só não imaginou o impacto que o nome Brontossauro teria. Chegou
mesmo a eclipsar o nome verdadeiro. Ainda hoje muita gente continua a chamá-lo
pelo nome errado. O final da contenda entre Marsh e Cope não foi dos mais felizes. Havendo esgotado
suas fortunas ao longo da corrida pelos ossos, os dois só não acabaram na miséria
total por pura sorte.
Ao centro Marsh. Detalhe para o equipamento de paleontologia empunhado pelos membros de sua expedição. |