sábado, 24 de novembro de 2012

Tiranossauro Rex



O mito, o ícone, a lenda. Descoberto em 1892, de lá para cá adotou pelo menos dois nomes antes do definitivo. Edward Drinker Cope o chamou de Manospondylus gigas. Oito anos depois, 1900, Barnum Brown achou outro espécime mais completo, e resolveu batizá-lo de Dynamosaurus imperiosus. Apesar de legalzinho, não era um nome condizente com o status do Rei. Imaginemos os documentários atuais ouvindo o narrador a todo tempo chamando o bicho de Dynamosaurus. Com o tempo, o nome que devia inspirar assombro seria motivo de chacota. Por Fim, em 1905, Henry Fairfield Osborn cunhou o nome vencedor que imortalizaria a criatura: Tyrannosaurus Rex! O Rei dos Dinossauros, Rei dos Repteis Tiranos, o Lagarto Tirano Rei. Impactante, forte, bonito. Compatível com a magnificência do animal, quase todas as pessoas no mundo ouviram falar no T-Rex e quase todas as crianças (no qual me incluía) o tinha como preferido.



Crânio do T-Rex


ESQUELETO DO T-REX; DESTAQUE PARA A APARÊNCIA TRUCULENTA.


APARÊNCIA


OS OLHOS POSICIONADOS DE FRENTE
E BEM NO ALTO DA CABEÇA, SUGEREM
BOA VISÃO.
Mesmo quem olhe pela primeira vez, saberia dizer o que é esse animal. Um peitoral largo compacto de um lutador, pescoço grosso e musculoso eficaz na absorção de impactos, pernas fortes e musculosas, cauda longa que servia de contrapeso durante as corridas; e a cabeça, sem duvida a parte mais terrível de seu arsenal, armada com um dos maiores dentes do reino animal, alguns chegando a 14 centímetros, ligeiramente encurvados para trás, os poderosos músculos das mandíbulas, contribuindo para exercer uma força de + de 1 tonelada sobre o que quer que viesse a morder.








TAMANHO


O tamanho do Rei variou muito ao longo de mais de um século de sua descoberta, aumentando e encolhendo. Em livros antigos como Naturama, numa rápida passagem, é descrito como tendo 18 metros de comprimento e incríveis 30 toneladas. Essas medidas exageradas foram estimadas nos primeiros anos após sua descoberta, embasados em indivíduos não tão bem preservados. Atualmente, as medidas do Rei são bem mais modestas; 13 metros de comprimento, 5 metros de altura, tendo algo entre 8-9 toneladas. Isso o coloca na 4 posição entre os maiores terópodes (atrás do Espinossauro, Carcharodontossauro e o Giganotossauro). É digno de menção ressaltar os indivíduos mais populares já descobertos para se ter uma melhor noção do real tamanho. 




CM 9380: Foi o primeiro espécime usado para descrever formalmente o T-Rex. Seus restos foram encontrados em 1902 por Barnum Brown, curador assistente do Museu Americano de História Natural. Reconstruído em anos recentes, mede 11,9 metros com um peso estimado de 7,3 toneladas, muito embora outros estudos sugerem menores valores de peso. Em 1941, com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, o espécime foi vendido para o Museu Carnegie de História Natural em Pittsburgh, para a proteção contra possíveis ataques aéreos, permanecendo lá até hoje.



AMNH 5027: Também descoberto por Barnum Brown em Montana, em 1908, e descrito por Osborn em 1912 e 1916. Mede 11,8 com um crânio completo de 1,36. Seu peso foi calculado em seis toneladas.









RTMP 8161: O Black Beauty – Beleza Negra – encontrado em 1980 por Jeff Baker, é um dos mais bem preservados T-Rex, havendo reproduções do mesmo espalhadas pelo mundo. O apelido deriva da belíssima cor escura brilhante dos ossos, que ocorreu durante a fossilização pela presença de minerais na rocha circundante. O espécime está guardado no Museu Real Tyrrell, em Drumheller - Alberta, Canadá.  É considerado o menor de todos os espécimes de T-Rex adultos, com algo entorno de 10-11 metros.



MOR 555: Achado por Kathy Wankel, em 1988, numa ilha no Charles M. Russel National Wildlife Refuge de Montana. Este espécime foi escavada por uma equipe do Museu das Rochosas, liderados pelo paleontólogo Jack Horner, com a assistência de Army Corps Of Engineers. Informalmente chamado de "Wankel Rex", tem 85% do esqueleto, incluindo o crânio. Teria 18 anos quando morreu – o que para os padrões dos T-Rex, o classificava como adulto, porém, ainda não teria atingido todo seu máximo tamanho. Tem um comprimento estimado em 12.6 metros e um peso de cerca de 6,3 toneladas.




FMNH PR2081 a famosa Sue: Achado por Susan Hendrickson, do Instituto Black Hills, na Formação Hell Creek, perto de Fé, Dakota do Sul, em 12 de agosto de 1990. Este espécime em particular rendeu uma briga das boas sobre quem de fato era seu proprietário.
Pra começar o terreno onde o fóssil foi descoberto ficava dentro da Reserca indígena do Rio Cheyenne, ocupado pela família de Maurice Williams, um nativo americano da tribo Sioux. Em 1992, o olho gordo de Williams (e de toda a tribo Sioux) falou mais alto e ele se apresentou como dono do fóssil. O Instituto Black Hills não ia aceitar calado a sacanagem e em defesa alegou ter comprado o espécime por uma soma de cinco mil. O fóssil, como muitos milhares de páginas de notas de campo e registros de negócios, foi confiscado pelo FBI, em 1992, e mantido guardado durante todo o processo judicial que se seguiu. Em 1997, a ação deu causa favorável a Maurice Williams porque sua terra é tecnicamente realizada em confiança para ele pelo governo dos Estados Unidos. Portanto, embora o Instituto Black Hills tenha pago Williams pelo fóssil, foi julgado que o fóssil poderia ser considerado "terra". Eu já penso o seguinte: se o instituto tivesse feito descobertas sem nenhuma relevância, Williams nem se incomodaria em pedir que fizessem menção do lugar onde foi achado. Mais tarde, Williams leiloou Sue em Nova York, onde foi vendido para o Museu Field de História Natural, em Chicago, pela ninharia de US $ 8,4 milhões - Dinheiro, mestre de todos os povos. A preparação de Sue foi concluída no Museu Field e seu esqueleto foi colocado em exibição em 17 de Maio de 2000.
Mais de 90% do esqueleto foi recuperado, o que permitiu uma primeira descrição completa de um esqueleto de T-Rex. Tem um comprimento estimado de 13 metros e em vida, teria pesado algo entre 6-9 toneladas. 
Sue é o equivalente Rambo dos T-Rex, tendo vivido por volta de 28 anos – o apogeu para a espécie. Longe de ter tido uma vida fácil, este espécime carrega em seu histórico fóssil uma lista de deformações, decorrência de interações com outros T-Rex e doenças patológicas:

  • Lesão no ombro direito.
    Crânio de Sue marcado pelos rigores da vida
  • Tendão do braço direito rasgado
  • Três costelas quebradas (essas lesões se curaram sozinhas).
  • A fíbula esquerda tinha duas vezes o diâmetro da direita (suspeita de infecção)
  • Os buracos na parte da frente do crânio foram atribuídos as mordidas de outro T-Rex. Hoje, porém, pensam-se ser resultado de infecções de parasitas.
  • Vértebras da cauda fundidas, evidência de artrite.
  • Possivelmente tenha sofrido de gota.

Notavelmente, o animal não teria morrido de nenhuma dessas causas.  Talvez a idade avançada e as lutas tenham derrubado esse titã. Quem sabe...




BHI 3033 (Stan): Encontrado por Stan Sacrison, em 1987, na Formação Hell Creek, em Dakota do Sul, perto de Buffalo. Destaca-se dos demais espécimes até então descobertos pelo grande número de ossos, 199 no total. Teria medido 11.78 de comprimento e 12 pés (3 metros) de altura nos quadris. 
O programa da BBC The Truth About the Killer Dinosaurs 
(A Verdade Sobre os Dinossauros Assassinos) usou um modelo hidráulico do crânio baseado no de Stan. Os testes mostraram que a força de mordida de um T-Rex girava entorno de 3 toneladas.  















BMRP 2002/04/01 (Jane): O "bebê" dentre os espécimes colhidos, descoberto na Formação Hell Creek, sul de Montana, em 2001. Os paleontólogos que apoiam a tese de que Jane representa um jovem T-Rex - e não um Nanotirano - acreditam que ele teria aproximadamente 11 anos de idade quando morreu. Seu esqueleto totalmente restaurado mede 6,5 metros de comprimento e seu peso em vida teria sido de, provavelmente, 680 kg. Seus pés grandes e pernas longas indicam que ele teria sido um ágil corredor – uma característica que podemos atribuir aos jovens, o que os auxiliaria tanto na fuga como na caça. Sua mandíbula inferior tem 17 dentes serrilhados. Apesar do nome sugerir uma "fêmea", não se tem certeza quanto ao sexo.


Há ainda outros espécimes notáveis a exemplo MOR 008 - 12.57 metros e peso de 7 toneladas - e o UCMP 137538 ; pouco maior que Sue, teria 14.5 metros e peso de 10 toneladas. Mais recentemente, em 2011, Jack Horner encontrou 5 novos espécimes de T-Rex, sendo pelo menos um destes 30% maior que Sue. As estimativas iniciais dizem que ele teria tido 16 metros e pesado algo entorno de 11 toneladas. "Poxa, então o tamanho do T-Rex tem que ser revisto?" ----- Diria que ainda não. Pouco mais de 30 esqueletos fosseis são conhecidos, em estado de conservação mais-ou-menos/ bom. A média para grande maioria é de 12-13 metros. Exemplares acima disso (como Sue e UCMP 137538) podem ser considerados casos excepcionais. Há de considerar algumas causas para indivíduos que ultrapassem a expectativa de tamanho: herança genética e mesmo sorte - sobreviver a mortalidade infantil, aos anos de chumbo posterior - podem contribuir para animais alcançarem maiores dimensões. Até que novos estudos e espécimes sejam descobertos, o tamanho médio para o T-Rex permanece na ordem dos 13 metros. 


DIETA 



A lista do que o T-Rex pode ter predado (aceitando que fosse um predador ativo) é bem diversificada. Considerando que viveu no fim do Cretáceo, na América do Norte (e Canadá), fase Maastrichtiano, pode ter caçado os bem-armados Triceratops, Torossauro e Monoclonius.




 O veloz Ornithomimus



Arte de Mark Garlick


O blindado Anquilossauro






O mau-corredor Paquicefalossauro













O ligeiro Thescelossauro




O exótico Parasaurolophus










O pacífico Coritossauro




O Hadrossauro bico-de-pato Edmontossauro




É possível que o gigante Alamossauro fosse um alvo em potencial. Se incluirmos o fator oportunista, pterossauros (quando no solo), e, talvez, em tempos de escassez, devorasse os seus semelhantes (canibalismo). Aliás, ainda com relação ao seu comportamento, nem todos estão convencidos que tenha sido um efetivo caçador. Como não podia deixar de ser, os críticos ignoraram o tamanho das mandíbulas do porte bruto e focaram atenção numa das partes anatômicas mais visíveis (ou não) do T-Rex; os membros dianteiros (braços). Como seria possível para um animal predador matar com aquilo? Os braços de 1 metro terminando em 2 dedos davam certa aparência cômica. Um braço não chegava a tocar o outro. Coçar o focinho nem pensar. Mesmo descartando o uso dos braços para segurar uma presa em luta, o T-Rex ainda possuía a força das mandíbulas. E uma vez que a mordida excedia mil quilos de força, aonde quer que mordesse o alvo, a refeição estaria garantida.



GRUPO FAMILIAR; PAI/ MÃE E FILHOTES


COMPORTAMENTO 


Assim como nossas celebridades, a vida intima do T-Rex sempre foi tema de discussão;  afinal de contas o Rei fazia o tipo anti-social ou ele teria buscado a companhia de seus iguais?


UMA COLIGAÇÃO ENTRE MACHOS: UMA FORÇA A SER TEMIDA.


Pertencer a um grupo vem acompanhado de várias vantagens, listando as seguintes:

(1) Um grupo pode ter e manter um território maior e melhor que um único indivíduo conseguiria.

(2) Um grupo pode abater presas que um único indivíduo não ousaria atacar.

(3) Num grupo há segurança, fora a capacidade intimidadora que poderiam exercer em predadores solitários, (se bem que um T-Rex sozinho já intimidava).


Vendo assim fica fácil sustentar a teoria de animais sociáveis. Agora, como opinião pessoal, acho que não era o caso. Apesar das benesses de se viver em sociedade, é justamente a partilha seu maior ponto fraco. Do ponto de vista dos machos adolescentes em busca de ascensão, nunca o conseguiriam estando num grupo (seja no qual nasceu ou no que viesse a pertencer). Penso eu que o T-Rex deve ter sido a maior parte do tempo solitário, com machos e fêmeas se juntando e formando temporariamente um grupo, cuidando dos filhotes até uma idade em que os mesmos pudessem se defende sozinhos, voltando posteriormente a sua condição solitária. Na sociedade como um todo, onde territórios se sobrepunham, invariavelmente o T-Rex deve ter lutado com outros, fosse por status ou direitos de acasalamento. Talvez isso explique a expectativa de vida relativamente curta para o Rei Tirano Lagarto não ser maior que uns 35-38 anos. Morrer de velhice era um luxo reservado a bem poucos.



INTERAÇÕES: Embora ocupasse a posição de topo dentro de seu habitat, o T-Rex não era invencível (Nem fora o único predador).


Nanotirano; também foi seu contemporâneo (ainda que aja duvidas se de fato trata-se duma espécie própria ou de um T-Rex juvenil). Aqui vamos aceitar a tese de que seja uma espécie distinta. Um membro da também família tyrannosauridae, medindo em torno de 5 metros e pesando 1 tonelada, um peso pena comparado ao seu primo, a única chance de um Nanotirano contra o T-Rex seria mesmo atacar os futuros Reis e Rainhas enquanto não eram fortes o suficiente.






Troodon: Ainda menor que o Nanotirano, o mesmo pode ter vindo a oferecer algum perigo a ovos bem como a filhotes desprotegidos.










A própria espécie, seu pior inimigo; os fósseis resgatados de T-Rex, mutilados por todo tipo de laceração, mostram o quão difícil era a convivência entre seus iguais. 






MÍDIA


Com status de celebridade, a imagem do T-Rex está vinculado a todo tipo de produto entre filmes, desenhos, HQs, livros.

  • Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica, nos apresentou Horácio, um filhote órfão de T-Rex, verde e com apetite por alfacinhas.









  • Pelo aspecto impressionante não foi difícil Hollywood fazer do T-Rex um vilão. Em King Kong (1933), no coração da Ilha da Caveira, o Rei Lagarto contracena uma luta épica contra Kong, um gigantesco macaco.

       IMPORTANTE: O trio de terópodes que enfrenta o macacão no remake King Kong (2005)não são Tiranossauros. A espécie chama-se Vastatossauro Rex, uma possível linha evolutiva do T-Rex caso o mesmo tivesse continuado a existir. 


  • O T-Rex também aparece num dos clássicos de Walt Disney, Fantasia (1940). Tendo a trilha sonora de Ígor Stravinski, Sagração da Primavera, num dramático clima enfrenta um Estegossauro.

Apesar de retratado com três dedos, era um T-Rex


  • Impossível deixar de citar o filme Jurassic Park (1993) onde quase no fim do filme o Rei realiza sua mais marcante aparição, salvando os protagonistas de serem comido por dois raptores.







Em documentários que visam reproduzir o cotidiano de espécies de dinossauros, a aparição do T-Rex é quase onipresente:



Paleoworld 1997 – traduzido aqui para o Brasil como O Mundo dos Dinossauros
Episodio 1 "The Legendary T-Rex" – O Lendário T-Rex


Walking With Dinosaurs 1999 – Caminhando com os Dinossauros.
Episódio 6 "Death of a Dynaty" – A Morte de uma Dinastia.


When Dinosaurs Roamed América 2001 – Quando os Dinossauros viviam na América.


Valley of the T-Rex 2001Vale do T-Rex. Aqui o paleontólogo Jack Horner aborda o tema T-Rex Caçador, colocando sua visão do animal como um provável carniceiro.


Jurassic Fight Club 2008 – Luta Jurássica.
Episódios 2 "T-Rex Hunter" – O Caçador de T-Rex.
Episódio 7 "Biggest Killers" – Grandes Assassinos.
Episodio 11 "Raptores VS T-Rex".


Clash of The Dinosaurs 2010Choque dos Dinossauros.
Episódio 1 "Extreme Survivors" – Sobrevivente Extremo.



Last Day of the Dinosaurs 2010 – Último Dia dos Dinossauros ou O Fim dos Dinossauros.


Dinosaur Revolution 2011 – Revolução Dinossauro.
Episódio 4 "End Game".




  • É pouco provável que o T-Rex tenha coexistido com o Dromaeossauro, como retratado no episódio 11 de Luta Jurássica. Ambas as espécies estavam separadas pelo fator tempo: Campaniano - Dromeossauro - Maastrichtiano - T-Rex. Também é pouco provável que tenha visto o enorme crocodilo Deinosuchus. 

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