sábado, 11 de janeiro de 2014

Apatossauro


Arte de Charles Robert Knight (1897)
Faça uma enquete: Pergunte a qualquer criança qual dinossauro herbívoro elas gostam mais. Provavelmente não saberão dar o nome exato, mas saberão descrevê-lo perfeitamente; alto como uma casa, comprido igual um caminhão, pesado como um elefante. Simples, porém, objetivo. 








Quando Othniel Charles Marsh apresentou-o ao mundo, ninguém imaginava que pudesse haver algo que superasse o Apatossauro. Era simplesmente gigante; da cabeça a cauda media 23 metros. Alto o suficiente para meter a cabeça pela janela do 3º andar. As pernas se pareciam com colunas cilíndricas e a cauda, como o tronco grosso de árvore. Seu peso foi calculado em algo entorno de 36 toneladas – mais ou menos 10 elefantes. Um animal no todo enorme, mas que no fim da extremidade do longo pescoção, trazia uma pequenina cabeça, tão cômica quanto os braços do T-Rex. Apatossauro significa "Lagarto Falso". 









A espécie descrita por Marsh, Apatosaurus Ajax. O espécime faltando as partes, NSMT-PV 20375, é o material original. Abaixo, o exemplar completo.




FAMA




Devido à descoberta de espécies ainda maiores – tais como o Braquiossauro, Argentinossauro, Seismossauro – o Apatossauro ficou meio eclipsado – pra não dizer totalmente apagado. Não é tão conhecido de documentários, sendo mais popular em filmes antigos. Todo saurópode que você vir naqueles filmes preto e branco, pode ter certeza, é um Apatossauro. O Mundo Perdido (The Lost World, 1925) apresentou uma equipe expedicionária indo ao coração da Amazônia venezuelana, onde num platô acabam descobrindo uma colônia de formas de vida primitivas. Era um tema muito popular no início do século passado e havia quem acreditasse na existência de dinossauros vivos habitando esses planaltos – claro, esses platôs não haviam sido devidamente explorados. King Kong de 1933 também apresentou um Apatossauro. Este, porém, possuía um temperamento agressivo, chegando mesmo a devorar um humano. No livro Jurassic Park, é o Apatossauro o primeiro dinossauro que todos vêem logo de cara. Desconheço se houve um motivo oficial para terem-no substituído. Imagino que foi justamente a questão de apresentar uma espécie ainda maior que o Apatossauro.
Apesar de distante do posto de maior animal terrestre, foi e continua sendo, sem sombra de dúvida, um dos mais populares dinossauros, retratado numa infinidade de filmes e desenhos. Um que podemos destacar é o clássico de Hanna-Barbera Dinoboy (1966). Um menino (Todd) salta de para-quedas de um avião em chamas, aterrissando numa floresta sul-americana, onde dinossauros - e outros animais extintos - viviam. Sem ter como fugir, passa a viver ali, junto de Ugh (um homem das cavernas) e Bronti (Bronty) um filhote de Apatossauro criado como mascote.







Quem ai se lembra desse dinossaurinho?








Certeza que ninguém da nova geração sabe o nome, mas a velha guarda dos anos 80/ 90 reconhece Littlefoot, um filhote de apatossauro e um dos protagonistas do filme Em Busca do Vale Encantado (The Land Before Time, 1988). Assistia esse filme de deixar o videocassete fervendo - no tempo ainda das fitas VHS, putz, como o tempo passa. Não vão pensando que se trata de mais uma historinha trazendo dinossauros como tema. A animação não é um retrato fiel de algum período mesozoico, nem essa era a intenção. Ao mesmo tempo que divertia também abordava temas sérios de nossa sociedade; a dor de uma separação inesperada, ser capaz de continuar enfrente, o valor da amizade, mostrar cooperação. Valores cada vez mais perdidos e que vale a pena revivê-los. Fez tanto sucesso que garantiu uma série animada de 26 episódios. Deixo aqui a música de encerramento do filme Se Mantivermos Juntos (If We Hold On Together). 







Marsh Vs Cope
O segundo personagem fictício de maior destaque, foi criação do próprio Marsh, embora o mesmo não tivesse a menor ideia disso. Resumindo a história, houve uma época em que Othniel Charles Marsh e Edward Drinker Cope eram bons amigos. Não eram amigos do tipo que cresceram no mesmo bairro. A amizade dos dois era do tipo que se forma na escola ou trabalho. Não tardou e ambos resolverem entrar numa disputa para ver quem era capaz de coletar e nomear mais espécies de dinossauros. Inicialmente os dois levavam tudo na brincadeira. O tempo foi passando, e a coisa evoluiu, chegando ao ponto dos jornais noticiarem escândalos de propina, difamação e ameaças das mais variadas.



Ao centro Marsh. Detalhe para o equipamento de paleontologia
empunhado pelos membros de sua expedição.
Certo dia, Marsh fazia escavações quando se deparou com o que supunha ser uma nova espécie (na verdade era um Apatossauro). Tinha todo o corpo, porém, faltava à cabeça. Isso não impediu Marsh, que pensou: Ora bolas, que mal há em providenciar uma cabeça, só falta isso para poder anunciar minha descoberta ao mundo!! Assim ele prosseguiu com o plano, pegou o crânio de um Camarassauro e colocou-o no corpo do seu achado, exibiu-o a comunidade cientifica e mídia geral. Quando indagado qual era o nome, Marsh respondeu; Brontossauro, o Lagarto Trovão. De imediato seus opositores, especialmente Cope, disse tratar-se duma farsa, e que a cabeça pertencia ao Camarassauro. Marsh insistiu tratar-se duma espécie autêntica. No fim teve de reconhecer o erro. Ele só não imaginou o impacto que o nome Brontossauro teria. Chegou mesmo a eclipsar o nome verdadeiro. Ainda hoje muita gente continua a chamá-lo pelo nome errado. O final da contenda entre Marsh e Cope não foi dos mais felizes. Havendo esgotado suas fortunas ao longo da corrida pelos ossos, os dois só não acabaram na miséria total por pura sorte. 





INIMIGOS


Manada de Apatossauros observada por um Ceratossauro




É pouco provável que o Apatossauro fosse importunado. A vantagem de ser grande é não se preocupar com algo que possa comê-lo. Adultos não tinham nada a temer do Ceratossauro. A constituição física desse terópode o fez para caçar pequenos animais. Provavelmente rondava as manadas, de olho nos enfermos e filhotes desprotegidos. Já o Alossauro era outra história. Dois ou três representavam uma força a se considerar.





A principal defesa do Apatossauro era seu notável tamanho. Ninguém em sã consciência tentaria atacar um bicho que facilmente podia achatá-lo. Se isso não bastasse para desencorajar seus atacantes, ainda poderia usar sua cauda como um chicote. Por fim, e não menos importante, o fato de serem animais sociáveis também funcionava como defesa. Atacar um grupo é bem mais difícil do que investir contra um alvo solitário. No geral, o Apatossauro deve ter se preocupado pouco, gastando 20% do tempo com a vigília, dedicando maior parte do tempo a pastar na copa das árvores.

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